A filosofia ocidental surgiu na Grécia quando os primeiros filósofos, os pré-socráticos, levantaram a necessidade de pensar com critérios racionais e não de acordo com os esquemas da mitologia. Um dos conceitos-chave para entender a racionalidade filosófica é justamente o conceito de doxa, tradicionalmente traduzido como opinião.
Doxa contra episteme
Todos nós temos nossas próprias opiniões sobre vários assuntos. A opinião é baseada na avaliação subjetiva de algo (acho que os bolos são bons, mas um amigo considera o contrário). A pluralidade de avaliações pessoais impossibilita a construção de verdadeiros conhecimentos a partir de uma simples opinião. Se quisermos nos aproximar da verdade, devemos percorrer o caminho do conhecimento ou episteme.
A diferença entre opinião e conhecimento (doxa e episteme) foi abordada por Parmênides e mais tarde por Platão. De acordo com a primeira, a doxa é baseada nos sentidos, desejos e experiências pessoais, enquanto a episteme é a tentativa de construir verdades distantes da subjetividade individual. Segundo Platão, a doxa é um conhecimento que depende das aparências e, portanto, engana (aqueles que defendiam suas ideias de acordo com a doxa, Platão chamava com desprezo de doxógrafos, que poderíamos traduzir como formadores de opinião).
Para a maioria dos filósofos gregos, a doxa é um substituto para o conhecimento verdadeiro. Por meio da opinião, podemos nos comunicar, compartilhar experiências e valorizar qualquer aspecto da realidade do nosso ponto de vista individual. Porém, se queremos saber algo com critério de verdade e de forma objetiva, devemos seguir o caminho da episteme. Essa distinção entre uma forma de conhecimento e outra é decisiva para entender a diferença entre o que é científico e o que não é.
Crença contra ciência
A reflexão sobre a doxa e a episteme em filósofos como Parmênides e Platão, é uma questão que nos permite compreender melhor nossos esquemas mentais. Alguns conhecimentos são baseados em crenças pessoais (por exemplo, fé religiosa), enquanto outros são baseados em critérios estritamente racionais e empíricos (por exemplo, a biologia como disciplina científica).
Apesar da distinção entre crença e ciência, não são campos totalmente incompatíveis, uma vez que as crenças podem vir acompanhadas de argumentos racionais e, paralelamente, verdades científicas podem levar a crenças de natureza espiritual (por exemplo, um astrônomo pode acreditar em Deus porque ele considera que a ordem do universo deve ter sido criada por um ser superior).
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